sábado, 13 de outubro de 2012

Antes de qualquer coisa sou um ser humano


Compreender a dinâmica entre o humano e o espiritual, o temporal e o atemporal é certamente essencial para a caminhada cristã. Cada cristão necessita diariamente reconhecer e conhecer as essencialidades da sua própria humanidade, antes mesmo de perscrutar os mistérios da espiritualidade. Deste modo, é saudável para qualquer discípulo de Jesus Cristo ter a consciência de que, antes de ser um crente, ele é gente, antes de ser “homem de Deus”, ele é homem, e antes de ser espiritual é um ser humano.
Eventualmente, o cristão pode desenvolver inconscientemente a cultura do “super crente”, onde o entendimento é de uma vida extraordinária que elimina o fracasso, o medo, e as frustrações da vida, porém, esta percepção equivocada perdurará até o momento, em que, o individuo fracassar ou for novamente assediado pelo medo, redescobrindo que continua sendo um ser humano, relativo, frágil e carente da graça e do amor divino.
Infelizmente, a teologia e a missão de alguns redutos cristãos que objetiva transformar seres humanos em semi-deuses, ou numa espécie da humanjos (homens anjos), provoca estragos indizíveis na mente de pessoas sinceras, mas equivocadas com relação a consciência do significado do verdadeiro evangelho de Cristo Jesus.
É valido ressaltar ainda que, a maioria dos cristãos que em algum momento creu na falácia da supremacia espiritual ( que pretende nos tornar em seres angelicais), normalmente acabam possuindo um senso de preconceito, e juízo tão elevado como sua própria loucura espiritual disfarçada de falsa piedade, podendo vir fatalmente ser vitimado pela verdade eterna que declara: “Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós.” (Mateus 7.2).
Meu objetivo não é justificar o pecado característico de nossa natureza pecaminosa, nem tão pouco engrossar as fileiras do liberalismo teológico em ascensão neste momento, mas antes, desejo celebrar a beleza do paradoxo da nossa humanidade concedida pelo próprio Deus:
- Que nos formou do pó da terra, ao mesmo tempo em que, nos fez alma vivente.
- Que colocou o tesouro do conhecimento da gloria divina em vasos de barro para que a excelência do poder seja Dele e não de nós. (2 Coríntios 4.7)
- Que escolheu homens limitados, simples, e rejeitados para evangelizar o mundo com o evangelho da paz.
- Que conhece a nossa estrutura, e lembra-se de que somos pós, mas mesmo assim, nos faz dominar sobre as obras das tuas mãos. (Salmo 8.5)
- Que declara um adultero e homicida como “o homem segundo o seu coração”.
- Que nos faz almejar pelas coisas do alto, mesmo sabendo que o pecado é intrínseco a nossa existência, levando o apóstolo a clamar: “Porque o bem que quero fazer não faço, mas o mal que não quero esse faço. Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?” (Romanos 7.19,24)
Em resumo, a beleza do ser humano, não está na possível perfeição dos anjos, ou na absoluta santidade divina, mas antes, nas contradições que o habitam, e fazem o próprio Deus declarar – “A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza.” Levando assim, o apóstolo (Paulo) a afirmar - De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo.” (2 Coríntios 12:9)

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